Há momentos em que é importante chegar
à verdade dos factos: por exemplo,
se Romeu naquele dia soubesse
que Julieta apenas hibernava
sob a aparência de um cadáver,
teria esperado as horas necessárias
para que ele acordasse
ou talvez fosse mesmo dar-lhe um beijo
semelhante ao da história infantil
da bela adormecida.
Fugiriam os dois pra muito longe,
esqueceriam Verona e o ódio
de Capuletos e Montéquios
e talvez descobrissem uma outra cidade
onde vivessem tranquilos
e criassem filhos – um lugar
onde fossem felizes para sempre,
pelo menos enquanto durasse o amor
e às vezes dura sempre
tal como nas histórias infantis.
Se assim tivesse acontecido, a história
de Julieta e de Romeu seria
parecida com as histórias infantis
em que a eternidade se renova
segundo a natureza projectada
em netos & bisnetos & etc.
Em vez disso, na história conhecida
o destino fintou a natureza,
suspendeu-lhe os limites, proclamou
que para lá da morte só o amor
é eterno – e assim
as almas desses dois apaixonados
desde então até hoje
precisam de se amar para sobreviver.
Fernando Pinto do Amaral