Valsa brasileira
(Edu Lobo e Chico Buarque)
Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu
Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer
Wednesday, July 05, 2006
Friday, February 11, 2005
Lugares
Places, loved ones
No, I have never found
The place where I could say
This is my proper ground,
Here I shall stay;
Nor met that special one
Who has an instant claim
On everything I own
Down to my name;
To find such seems to prove
You want no choice in where
To build, or whom to love;
You ask them to bear
You off irrevocably,
So that it's not your fault
Should the town turn dreary,
The girl a dolt.
Yet, having missed them, you're
Bound, none the less, to act
As if what you settled for
Mashed you, in fact;
And wiser to keep away
From thinking you still might trace
Uncalled-for to this day
Your person, your place.
Philip Larkin
in The Less Deceived (1955)
No, I have never found
The place where I could say
This is my proper ground,
Here I shall stay;
Nor met that special one
Who has an instant claim
On everything I own
Down to my name;
To find such seems to prove
You want no choice in where
To build, or whom to love;
You ask them to bear
You off irrevocably,
So that it's not your fault
Should the town turn dreary,
The girl a dolt.
Yet, having missed them, you're
Bound, none the less, to act
As if what you settled for
Mashed you, in fact;
And wiser to keep away
From thinking you still might trace
Uncalled-for to this day
Your person, your place.
Philip Larkin
in The Less Deceived (1955)
Na cama
Talking in bed
Talking in bed ought to be easiest,
Lying together there goes back so far,
An emblem of two people being honest.
Yet more and more time passes silently.
Outside, the wind's incomplete unrest
Builds and disperses clouds about the sky,
And dark towns heap up on the horizon.
None of this cares for us. Nothing shows why
At this unique distance from isolation
It becomes still more difficult to find
Words at once true and kind,
Or not untrue and not unkind.
Philip Larkin
in The Whitsun Weddings (1964)
Talking in bed ought to be easiest,
Lying together there goes back so far,
An emblem of two people being honest.
Yet more and more time passes silently.
Outside, the wind's incomplete unrest
Builds and disperses clouds about the sky,
And dark towns heap up on the horizon.
None of this cares for us. Nothing shows why
At this unique distance from isolation
It becomes still more difficult to find
Words at once true and kind,
Or not untrue and not unkind.
Philip Larkin
in The Whitsun Weddings (1964)
Tuesday, February 01, 2005
Romeu e Julieta – outro fim?
Há momentos em que é importante chegar
à verdade dos factos: por exemplo,
se Romeu naquele dia soubesse
que Julieta apenas hibernava
sob a aparência de um cadáver,
teria esperado as horas necessárias
para que ele acordasse
ou talvez fosse mesmo dar-lhe um beijo
semelhante ao da história infantil
da bela adormecida.
Fugiriam os dois pra muito longe,
esqueceriam Verona e o ódio
de Capuletos e Montéquios
e talvez descobrissem uma outra cidade
onde vivessem tranquilos
e criassem filhos – um lugar
onde fossem felizes para sempre,
pelo menos enquanto durasse o amor
e às vezes dura sempre
tal como nas histórias infantis.
Se assim tivesse acontecido, a história
de Julieta e de Romeu seria
parecida com as histórias infantis
em que a eternidade se renova
segundo a natureza projectada
em netos & bisnetos & etc.
Em vez disso, na história conhecida
o destino fintou a natureza,
suspendeu-lhe os limites, proclamou
que para lá da morte só o amor
é eterno – e assim
as almas desses dois apaixonados
desde então até hoje
precisam de se amar para sobreviver.
Fernando Pinto do Amaral
à verdade dos factos: por exemplo,
se Romeu naquele dia soubesse
que Julieta apenas hibernava
sob a aparência de um cadáver,
teria esperado as horas necessárias
para que ele acordasse
ou talvez fosse mesmo dar-lhe um beijo
semelhante ao da história infantil
da bela adormecida.
Fugiriam os dois pra muito longe,
esqueceriam Verona e o ódio
de Capuletos e Montéquios
e talvez descobrissem uma outra cidade
onde vivessem tranquilos
e criassem filhos – um lugar
onde fossem felizes para sempre,
pelo menos enquanto durasse o amor
e às vezes dura sempre
tal como nas histórias infantis.
Se assim tivesse acontecido, a história
de Julieta e de Romeu seria
parecida com as histórias infantis
em que a eternidade se renova
segundo a natureza projectada
em netos & bisnetos & etc.
Em vez disso, na história conhecida
o destino fintou a natureza,
suspendeu-lhe os limites, proclamou
que para lá da morte só o amor
é eterno – e assim
as almas desses dois apaixonados
desde então até hoje
precisam de se amar para sobreviver.
Fernando Pinto do Amaral
Monday, January 31, 2005
Like a moron
Some People achieve their humility by prayer and fasting, some by great charitable works. My own method is to behave in public like a complete moron every three months or so.
Don Paterson
in The Book of Shadows
Don Paterson
in The Book of Shadows
Tuesday, January 18, 2005
Dias difíceis
O Tempo Aprazado
Vêm aí dias difíceis.
O tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Em breve terás de atar os sapatos
e recolher os cães nos casais da lezíria,
pois as vísceras dos peixes
arrefeceram ao vento.
Mortiça arde a luz dos tremoceiros.
O teu olhar abre caminho no nevoeiro:
o tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Do outro lado enterra-se-te a amante,
a areia sobe-lhe pelo cabelo a esvoaçar,
corta-lhe a palavra,
impõe-lhe o silêncio,
acha-a mortal
e pronta para a despedida
depois de cada abraço.
Não olhes em volta.
Ata os sapatos.
Recolhe so cães.
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros!
Vêm aí tempos difíceis.
Ingeborg Bachmann
in O Tempo Aprazado
Vêm aí dias difíceis.
O tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Em breve terás de atar os sapatos
e recolher os cães nos casais da lezíria,
pois as vísceras dos peixes
arrefeceram ao vento.
Mortiça arde a luz dos tremoceiros.
O teu olhar abre caminho no nevoeiro:
o tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Do outro lado enterra-se-te a amante,
a areia sobe-lhe pelo cabelo a esvoaçar,
corta-lhe a palavra,
impõe-lhe o silêncio,
acha-a mortal
e pronta para a despedida
depois de cada abraço.
Não olhes em volta.
Ata os sapatos.
Recolhe so cães.
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros!
Vêm aí tempos difíceis.
Ingeborg Bachmann
in O Tempo Aprazado
Friday, January 14, 2005
(Remédio santo)
Este blogue comentários tinha
Para que botassem opinião
Foi então que as bocas foleiras
Me obrigaram a fechar o portão
(Ah fadista!)
Para que botassem opinião
Foi então que as bocas foleiras
Me obrigaram a fechar o portão
(Ah fadista!)
Outra vez, Ana
The Book of Love
The book of love is long and boring
No one can lift the damn thing
It's full of charts and facts and figures
and instructions for dancing
but I
I love it when you read to me
and you
you can read me anything
The book of love has music in it
In fact that's where music comes from
Some of it is just transcendental
Some of it is just really dumb
but I
I love when you sing to me
and you
you can thing me anything
The book of love is long and boring
and written very long ago
It's full of flowers
and heart-shaped boxes
and things we are all to young to know
but I
I love it when you give me things
and you
you ought to give me wedding rings
I
I love it when you give me things
and you
you ought to give me wedding rings
Stephin Merritt
in 69 Love Songs
The book of love is long and boring
No one can lift the damn thing
It's full of charts and facts and figures
and instructions for dancing
but I
I love it when you read to me
and you
you can read me anything
The book of love has music in it
In fact that's where music comes from
Some of it is just transcendental
Some of it is just really dumb
but I
I love when you sing to me
and you
you can thing me anything
The book of love is long and boring
and written very long ago
It's full of flowers
and heart-shaped boxes
and things we are all to young to know
but I
I love it when you give me things
and you
you ought to give me wedding rings
I
I love it when you give me things
and you
you ought to give me wedding rings
Stephin Merritt
in 69 Love Songs
Nunca segui este bom conselho
Never Give All The Heart
Never give all the heart, for love
Will hardly seem worth thinking of
To passionate women if it seem
Certain, and they never dream
That it fades out from kiss to kiss;
For everything that’s lovely is
But a brief, dreamy, kind delight,
O never give the heart outright,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their hearts up to the play.
And who could play it well enough
If dead and dumb and blind with love?
He that made this knows all the cost,
For he gave all his heart and lost.
W. B. Yeats
Never give all the heart, for love
Will hardly seem worth thinking of
To passionate women if it seem
Certain, and they never dream
That it fades out from kiss to kiss;
For everything that’s lovely is
But a brief, dreamy, kind delight,
O never give the heart outright,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their hearts up to the play.
And who could play it well enough
If dead and dumb and blind with love?
He that made this knows all the cost,
For he gave all his heart and lost.
W. B. Yeats
Saberás tu o que é o amor?
You Don’t Know What Love Is
You don’t know what love is
Until you learned the meaning of the blues
Until you loved the love you had to lose
You don’t know what love is
You don’t know how lips hurt
Until you kissed and had to pay the cost
Until you’ve flipped your heart and you have lost
You don’t know what love is
Do you know how lost hearts fears
The thought of suffering
And the lips that taste of tears
Lose their taste for kissing
You don’t know how hearts burn
For love that cannot live yet never dies
Until you reached each dawn with sleepless nights
You don’t know what love is
How do you know how lost hearts fears
The thought of suffering
And how lips that taste of tears
Lose their taste for kissing
You don’t know what love is
Until you learned the meaning of the blues
Until you learned the love you had to lose
You don’t know what love is
Don Raye/Gene DePaul
(de preferência na versão sublime de June Tabor)
You don’t know what love is
Until you learned the meaning of the blues
Until you loved the love you had to lose
You don’t know what love is
You don’t know how lips hurt
Until you kissed and had to pay the cost
Until you’ve flipped your heart and you have lost
You don’t know what love is
Do you know how lost hearts fears
The thought of suffering
And the lips that taste of tears
Lose their taste for kissing
You don’t know how hearts burn
For love that cannot live yet never dies
Until you reached each dawn with sleepless nights
You don’t know what love is
How do you know how lost hearts fears
The thought of suffering
And how lips that taste of tears
Lose their taste for kissing
You don’t know what love is
Until you learned the meaning of the blues
Until you learned the love you had to lose
You don’t know what love is
Don Raye/Gene DePaul
(de preferência na versão sublime de June Tabor)
Tuesday, January 11, 2005
Cinco. Para a Ana.
1.
O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
Eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Fernando Pessoa
in O Pastor Amoroso
2.
At last the secret is out, as it always must come in the end,
The delicious story is ripe to tell to the intimate friend;
Over the tea-cups and in the square the tongue has its desire;
Still waters run deep, my dear, there's never smoke without fire.
W. H. Auden
in Tell Me The Truth About Love
3.
Esta mão que escreve a ardente melancolia
da idade
é a mesma que se move entre as nascentes da cabeça,
que à imagem do mundo aberta de têmpora
a têmpora
ateia a sumptuosidade do coração. A demência lavra
a sua queimadura desde os recessos negros
onde
se formam
as estações até ao cimo,
nas sedas que se escoam com a largura fluvial da luz e a espuma, ou da noite e as nebulosas e o silêncio todo branco.
Os dedos.
A montanha desloca-se sobre o coração que se alumia: a língua
alumia-se. O mel escurece dentro da veia
jugular talhando
a garganta. Nesta mão que escreve afunda-se
a lua, e de alto a baixo, em tuas grutas
obscuras, a lua
tece as ramas de um sangue mais salgado
e profundo. E o marfim amadurece na terra
como uma constelação. O dia leva-o, a noite
traz para junto da cabeça: essa raiz de osso
vivo. A idade que escrevo
escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore. Ou um filão ardido de ponta a ponta
da figura cavada
no espelho. Ou ainda a fenda
na fronte por onde começa a estrela animal.
Queima-te a espaçosa
desarrumação das imagens. E trabalha em ti
o suspiro do sangue curvo, um alimento
violento cheio
da luz entrançada na terra. As mão carregam a força
desde a raiz
dos braços, a força
manobra os dedos as escrever da idade, uma labareda
fechada, a límpida
ferida que me atravessa desde essa tua leveza
sombria como uma dança até
ao poder com que te toco. A mudança. Nenhuma
estação é lenta quando te acrescentas na desordem, nenhum
astro
é tão feroz agarrando toda a cama. Os poros
do teu vestido.
As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no comenta
que te envolve as ancas como um beijo.
Os dia côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como as estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.
Herberto Helder,
(a carta da paixão) in Photomaton & Vox
4.
Let us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherised upon a table;
Let us go, through certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night cheap hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To lead you to an overwhelming question...
Oh, do not ask, 'What is it?'
Let us go and make our visit.
T.S. Eliot
in The Love Song of J. Alfred Prufrock
5.
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia purificada
Alexandre O'Neill
in Um Adeus Português
O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
Eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Fernando Pessoa
in O Pastor Amoroso
2.
At last the secret is out, as it always must come in the end,
The delicious story is ripe to tell to the intimate friend;
Over the tea-cups and in the square the tongue has its desire;
Still waters run deep, my dear, there's never smoke without fire.
W. H. Auden
in Tell Me The Truth About Love
3.
Esta mão que escreve a ardente melancolia
da idade
é a mesma que se move entre as nascentes da cabeça,
que à imagem do mundo aberta de têmpora
a têmpora
ateia a sumptuosidade do coração. A demência lavra
a sua queimadura desde os recessos negros
onde
se formam
as estações até ao cimo,
nas sedas que se escoam com a largura fluvial da luz e a espuma, ou da noite e as nebulosas e o silêncio todo branco.
Os dedos.
A montanha desloca-se sobre o coração que se alumia: a língua
alumia-se. O mel escurece dentro da veia
jugular talhando
a garganta. Nesta mão que escreve afunda-se
a lua, e de alto a baixo, em tuas grutas
obscuras, a lua
tece as ramas de um sangue mais salgado
e profundo. E o marfim amadurece na terra
como uma constelação. O dia leva-o, a noite
traz para junto da cabeça: essa raiz de osso
vivo. A idade que escrevo
escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore. Ou um filão ardido de ponta a ponta
da figura cavada
no espelho. Ou ainda a fenda
na fronte por onde começa a estrela animal.
Queima-te a espaçosa
desarrumação das imagens. E trabalha em ti
o suspiro do sangue curvo, um alimento
violento cheio
da luz entrançada na terra. As mão carregam a força
desde a raiz
dos braços, a força
manobra os dedos as escrever da idade, uma labareda
fechada, a límpida
ferida que me atravessa desde essa tua leveza
sombria como uma dança até
ao poder com que te toco. A mudança. Nenhuma
estação é lenta quando te acrescentas na desordem, nenhum
astro
é tão feroz agarrando toda a cama. Os poros
do teu vestido.
As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no comenta
que te envolve as ancas como um beijo.
Os dia côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como as estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.
Herberto Helder,
(a carta da paixão) in Photomaton & Vox
4.
Let us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherised upon a table;
Let us go, through certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night cheap hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To lead you to an overwhelming question...
Oh, do not ask, 'What is it?'
Let us go and make our visit.
T.S. Eliot
in The Love Song of J. Alfred Prufrock
5.
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia purificada
Alexandre O'Neill
in Um Adeus Português
Tuesday, December 21, 2004
Aubade
I work all day, and get half-drunk at night.
Waking at four to soundless dark, I stare.
In time the curtain-edges will grow light.
Till then I see what's really always there:
Unresting death, a whole day nearer now,
Making all thought impossible but how
And where and when I shall myself die.
Arid interrogation: yet the dread
Of dying, and being dead,
Flashes afresh to hold and horrify.
The mind blanks at the glare. Not in remorse
- The good not done, the love not given, time
Torn off unused - nor wretchedly because
An only life can take so long to climb
Clear of its wrong beginnings, and may never,
But at the total emptiness for ever,
The sure extiction that we travel to
And shall be lost in always. Not to be here,
Not to be anywhere,
And soon; nothing more terrible, nothing more true.
This is a special way of being afraid
No trick dispels. Religion used to try,
That vast moth-eaten musical brocade
Created to pretend we never die,
And specious stuff that says No rational being
Can fear a thing it will not feel, not seeing
That this is what we fear - no sight, no sound,
No touch or taste or smell, nothing to think with,
Nothing to love or link with,
The anaesthetic from which none come round.
And so it stays just on the edge of vision,
A small unfocused blur, a standing chill
That slows each impulse down to indecision.
Most things may never happen: this one will,
And realisation of it rages out
In furnace-fear when we are caught without
People or drink. Courage is not good:
It means not scaring others. Being brave
Lets no one off the grave.
Death is no different whined at than withstood.
Slowly light strengthens, and the room takes shape.
It stands plain as a wardrobe, what we know,
Have always known, know that we can't escape,
Yet can't accept. One side will have to go.
Meanwhile telephones crouch, getting ready to ring
In locked-up offives, and all the uncaring
Intricate rented world begins to rouse.
The sky is white as clay, with no sun.
Work has to be done.
Postmen like doctors go from house to house.
Philip Larkin
in Times Literary Supplement, 23 de Dezembro de 1977
Waking at four to soundless dark, I stare.
In time the curtain-edges will grow light.
Till then I see what's really always there:
Unresting death, a whole day nearer now,
Making all thought impossible but how
And where and when I shall myself die.
Arid interrogation: yet the dread
Of dying, and being dead,
Flashes afresh to hold and horrify.
The mind blanks at the glare. Not in remorse
- The good not done, the love not given, time
Torn off unused - nor wretchedly because
An only life can take so long to climb
Clear of its wrong beginnings, and may never,
But at the total emptiness for ever,
The sure extiction that we travel to
And shall be lost in always. Not to be here,
Not to be anywhere,
And soon; nothing more terrible, nothing more true.
This is a special way of being afraid
No trick dispels. Religion used to try,
That vast moth-eaten musical brocade
Created to pretend we never die,
And specious stuff that says No rational being
Can fear a thing it will not feel, not seeing
That this is what we fear - no sight, no sound,
No touch or taste or smell, nothing to think with,
Nothing to love or link with,
The anaesthetic from which none come round.
And so it stays just on the edge of vision,
A small unfocused blur, a standing chill
That slows each impulse down to indecision.
Most things may never happen: this one will,
And realisation of it rages out
In furnace-fear when we are caught without
People or drink. Courage is not good:
It means not scaring others. Being brave
Lets no one off the grave.
Death is no different whined at than withstood.
Slowly light strengthens, and the room takes shape.
It stands plain as a wardrobe, what we know,
Have always known, know that we can't escape,
Yet can't accept. One side will have to go.
Meanwhile telephones crouch, getting ready to ring
In locked-up offives, and all the uncaring
Intricate rented world begins to rouse.
The sky is white as clay, with no sun.
Work has to be done.
Postmen like doctors go from house to house.
Philip Larkin
in Times Literary Supplement, 23 de Dezembro de 1977
Wednesday, September 29, 2004
The Autumn Leaves
The Falling leaves drift by my window
The autumn leaves of red and gold
I see your lips the summer kisses
The sunburned hands I used to hold
Since you went away the days are long
And soon I’ll hear old winter’s song
But I miss you most of all my darling
When autumn leaves start to fall
The autumn leaves of red and gold
I see your lips the summer kisses
The sunburned hands I used to hold
Since you went away the days are long
And soon I’ll hear old winter’s song
But I miss you most of all my darling
When autumn leaves start to fall
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